“A gente tem que se
motivar e procurar outros sentidos (pra vida). Não pode abdicar. Por
mais difícil que seja, buscar uma compreensão”.
Eu escrevi o trecho
acima, é parte de uma conversa com alguém que hoje é lembrança e
saudade. Na ocasião, lá pelos idos de 2012, falávamos de perda, de
vida e sobre continuar. Costumávamos conversar pelo bate-papo do
Facebook, distantes dos olhares e ouvidos alheios, por muitas vezes
diminuindo minhas tardes quase intermináveis no trabalho. E
falávamos sobre tudo, sobre futebol, família, distâncias.
Conversas longas, ou às vezes somente um “Inaises” perdido no
meio do dia, como se dissesse: “estou por aqui”.
Eu era dez anos mais
nova que ele. Diferença que pode parecer enorme quando se é apenas
uma criança. Eu pirralha, ele já frequentando a universidade. Mas,
curiosamente, quando chegavam as férias e eu ia para Salvador, era
com ele que eu gostava de ficar. O primo que sorria, inventava e
fazia de qualquer coisa brincadeira. Eu, pouca idade, lembro de
caminhar pelos corredores de Engenharia da UFBA feito gente grande,
sob seu olhar atento. Assisti a aula, fiz questionários e ele sempre
a sorrir.
Tinha nove ou dez anos
quando minha mãe me pediu para escolher um padrinho. A única que
teria o direito a escolha, sejam lá quais fossem as razões. Sei que
não pensei muito naquele momento. “O Marcus”, respondi. Por tudo
o que significava, pela companhia, pela atenção e cuidado que tinha
comigo. Não tive dúvidas.
Da infância restou
muito. Os passeios intermináveis, as idas ao Barradão, os filmes
que fazíamos, as cantorias, as brincadeiras que por muitas vezes
adentravam as madrugadas. Um carinho que cresceu comigo, resistente
às idas e vindas do dia a dia que nem sempre unem. Que só crescia
nas longas ou rápidas conversas de internet, ou nos papos certos que
tínhamos sempre que eu ia lá.
Hoje o Marcus não está
mais aqui. Há pouco mais de dois meses deixei Salvador com uma
incredulidade que ainda não passou. Com sentimentos atravessando a
garganta. Buscando confiar no tempo para dissolver as dores e
alimentar as boas lembranças, sejam minhas ou de toda família.
E somente hoje consegui
colocar esses sentimentos em palavras, ao relembrar nossas conversas
e o que ele me respondeu lá pelos idos de 2012, quando falávamos de
perda, de vida e sobre continuar. “Para mim o certo é viver a vida
intensamente. Aproveitar com responsabilidade, dizer eu te amo para
as pessoas sem ter vergonha. Valorizar a convivência com aqueles que
amamos, porque deixar pra depois pode ser tarde demais”.
Ele estava certo. Temos
que viver e aproveitar o amor cultivado. Lembrar com saudade sua
presença, seu sorriso, a maneira como conseguia cativar a todos. E
agradecer por ter tido essa oportunidade. Luz e o meu carinho eterno,
Marcus!