Já era um senhor. Ao menos aparentava ser. Caminhando,
cabeça baixa encoberta pelo boné que não escondia as marcas do sol. Devia ter
60 anos, se o trabalho diário na terra não o envelheceu precocemente. Procurava
um caminho, parecia desnorteado.
- Onde fica a avenida principal? – me interrompeu se
apressando em emendar o boa tarde esquecido. Estávamos em Petrolina, algumas dezenas de avenidas
principais.
- Aquela que dá pra Lagoa Grande – completou entendendo
minha confusão.
- Senhor, é um pouco longe daqui.
- Disseram que eu tinha que andar uns 20 quilômetros. Sabe
onde fica a Serra da Santa? Depois de lá um pouco. Preciso avisar a pai a morte
de minha “véa” – a cabeça baixou-se ainda mais, pingando lágrimas de um choro desavergonhado.
- 92 anos, foi atropelada – a voz embargada parecia pedir um
abraço, queria desabafar a tristeza aprisionada pela falta de recursos. Não
podia apenas chorar “sua véa”.
- O dinheiro que tinha paguei um aviso no rádio. Mas pai não
ouviu, não apareceu até agora. Então eu disse, fique aí minha irmã, que eu vou caminhando.
Devo chegar lá umas oito horas da noite. Tentei uma van pra Lagoa Grande, disse
que pagava quando chegasse no projeto, mas não deixaram – baixou novamente a
cabeça. Lamentava a falta de confiança.
- Pai tem que saber – chorava, o coração nos olhos vermelhos.
Não sei quem era o senhor, a senhora morta ou ao menos se “pai”
soube. Não sei de que localidade do interior de Juazeiro tinha saído apressado
para tentar levar uma notícia desagradável. Não sei se ele conseguiu chegar ao
projeto de irrigação próximo a Serra da Santa, na BR 428, zona rural de
Petrolina. Mas sua tristeza ficou ali parada, mesmo depois de que partiu, tentando
achar explicações para tantos descaminhos da vida.