Vinte
e sete de março de 2020. Estou há onze dias em casa, em
distanciamento social. Eu, de tantas exclamações, vou preenchendo
meus dias com reticências, pensando mais uma vez na relatividade do
tempo, tempo como cura, como remédio, como tormento.
Quem
nunca quis voltar ou acelerar o tempo? Congelar um momento, reviver
um abraço, escutar novamente algumas palavras ou ver expressões
que, inevitavelmente, vão sendo apagadas com o passar dos dias? Ou
ainda pedir que os minutos passem apressadamente e levem consigo
sensações ruins, situações que não gostamos de passar,
lembranças que não gostamos de ter?
Eu
hoje amanheci triste. Estou em casa, tenho conforto, trabalho, renda,
minha família está bem, meus amigos estão bem. Soa tão egoísta.
Mas é uma angústia que nos desafia. Hoje queria poder alterar a
velocidade do tempo. Como naqueles dias bons em que ele passou
corrido, como que fugisse de nossas mãos, desafiando nossas
percepções. Queria poder transpor os minutos através das palavras
e dizer: está tudo bem.
Hoje
eu só queria ter o tempo nas mãos, poder alterar essa dimensão e a
sensação que os segundos arrastados e a repetição dos dias
causam. Dia após dia, notícias, dúvidas, perguntas sem respostas e
a vontade de que o tempo avance, que acordemos do sonho ruim.