terça-feira, 26 de agosto de 2014

"Sim, o rio sabe"


Um dia ali foi caminho de barco. Água que passava correndo trazendo e levando notícias, deixando sentimentos. Um dia ali foi morada de peixe grande, que tornava ainda mais rica a vida de quem dele se alimentava.

Rio que em suas curvas desenhou estradas, encorajou o homem a fincar raízes, mostrou que viver era serpentear a sua liberdade por entre obstáculos e se lançar de peito aberto sobre o mar. Sempre corrente, vivo, soberano. Esse tempo não é distante, mas pode tornar-se apenas lembrança, cantada pela saudade e pela realidade que abate dia a dia o Velho Chico.

Há menos de um ano, o ponto mostrado pela fotografia acima era ancoradouro das barcas que fazem a travessia Juazeiro-Petrolina, hoje tomado pelas baronesas que se espalham rio a fora, sufocando, indicando que a sujeira humana aos poucos mata o que se tem de mais precioso.

Há cerca de cinco anos, o local onde se deu a tentativa de construção de uma estrutura para ancoragem das embarcações era coberto pela água, que, com as chuvas chegava a beirar a orla das cidades. Hoje, o volume do rio baixa diariamente, apequenando as possibilidades, apagando-se paradoxalmente para alimentar a energia elétrica.

O rio, em alguns lugares, já não canta. Explorado para além de sua capacidade, resiste, minguado, choroso, clamando para que o salvem de sua morte anunciada.     

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