Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil |
Eram sorrisos de canto
de rosto. Eram gargalhadas. Era a voz acuada que tentava se fazer
ouvir em meio a urros de prazer e satisfação. Foi o cinismo
estampado no rosto. A hipocrisia desnuda para milhões em rede
nacional. Foi a propina, o dinheiro, o poder. E se seguiram os
“sins”, tão torcidos, tão queridos por muitos que têm o
xingamento como único argumento. Era “pelo fim da oligarquia do
PT”. Ou pelo futuro dos filhos, dos netos, pelos 40 anos de
mandato. E pela continuidade das famílias coronelescas que se
perpetuam mandando, enriquecendo, mentindo, manipulando, subtraindo,
devastando, destruindo. Mas que seguem impunes. Porque são a lei,
porque são a justiça. Porque são injustos.
Era a ironia, a mudança
de opinião sem qualquer opinião formada. Era a conveniência. Se
seguia um a um, em nome da mulher, em nome do pai ladrão, em nome de
um presidente réu, comprovadamente corrupto. Mas era contra a
corrupção. Contra todas essas pessoas que se encheram de direitos
alimentados pelo Bolsa Família. Foi a Bahia, quase uma exceção,
execrada nas redes sociais que destilaram seus preconceitos
anonimamente, porque, como os deputados, reconhecem sua impunidade.
Era pela igreja, igreja instituição, que não paga impostos, que
rende dinheiro, que rende reconhecimento, que aliena, que prende,
domina, intimida, convence e manda.
Era a falta de
educação. Tudo em nome do bem estar do MEU povo brasileiro. “Meu”,
“minha”, pronomes que deixavam claras as intenções. E as
pedaladas foram virando coadjuvantes. E os decretos foram virando
coadjuvantes. Como são desde o início, pretextos apenas para a
realização de uma eleição indireta, tal qual lá naqueles tempos
sombrios que um deputado desprezível fez questão de exaltar. Era a
baixaria, a sem-vergonhice de pessoas eleitas com salários absurdos,
com regalias desnecessárias, que pisam diariamente na Constituição.
Que mataram ao menos uma parte do país de vergonha, ao ver todo
aquele circo em nome de uma nação.
São as pessoas
decepcionadas porque pensavam que a presidente já não estaria no
cargo. São as pessoas torcendo sem sequer saber o porque. Porque
dizem que um lado é o bom e o outro o mau. Que um lado é honesto e
o outro corrupto. Que um lado é o mocinho e outro o bandido. Que na
segunda-feira tudo estará no seu lugar como antes. Antes? Que antes?
Sim, estou triste. Mas
não é tristeza simplesmente, é uma indignação que machuca. Hoje,
depois deste dia 17 de abril, ainda custo acreditar que a política
do país se resumiu a um maniqueísmo medieval, rezado e gritado aos
quatro cantos em nome de Deus e da família. Estou triste e temerosa.
Que o dia seguinte não seja longo demais.
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