Não tinha uma vez que
eu fosse em Salvador que não passasse por lá. Aquele sem fim de
livros que iam se amontoando em um espaço tão pequeno me
transportava para um mundo onde os limites eram impalpáveis. Era o
Cantinho do Sebo, dois corredores bem estreitos e curtos, abarrotados
por obras dos mais diversos gêneros, das mais diferentes origens. E
ali, me esbarrando entre um e outro livro, impregnando o nariz com a
poeira insistente, me prendia às histórias contidas em breves
dedicatórias.
Elas eram muitas e isso
sempre me fascinou pelo fato de que era um pouco daquelas pessoas
desconhecidas exposto em prateleiras, talvez junto de seus autores
preferidos, talvez na contracapa de um livro nunca lido. Imaginava
como teriam ido parar justamente ali, no cantinho que era meu ponto
preferido em todas as férias, que caminhos teriam percorrido até
estarem ao alcance de minhas mãos.
Há anos não vou no
Cantinho, mas o encanto por livros e dedicatórias continua
inabalável. Hoje, em um hábito quase diário, percorro sebos
virtuais. Já não há a poeira insistente, ou as muralhas de livros
empilhados magicamente, desafiando a gravidade. Nem tampouco as
dedicatórias e os sentimentos sempre contidos nelas. A não ser
que...
Qual não foi a minha
surpresa quando abri o pequeno pacote vindo pelos Correios. O livro,
“O filho do Brasil” de Denise Paraná, eu já esperava. Primeira
edição, do ano de 1996, usado, mas bem conservado, trazia nas
páginas um pouco amareladas pelo tempo pequenas marcas de alguém
que não conheci. Logo ali no começo uma dedicatória: “Para a
querida Eliane Gonçalves com carinho do Lula. Sem medo de ser
feliz”, datado em 12 de dezembro daquele ano, sem indicar lugar.
Sorri instantaneamente.
Não era apenas mais uma dedicatória. Trazia a assinatura do próprio
biografado. Pensei no porque a pessoa teria se desfeito do livro.
Pensei se conhecia o personagem ou se participara de um momento de
autógrafo. Será que era sua eleitora? Será que se decepcionou?
Teria sido presente de alguém? Teria conhecimento de que o livro
andava pelo Brasil parando no interior baiano? Muitas perguntas,
nenhuma resposta e aquela mesma sensação que tinha ao folhear as
obras no Cantinho.
Esta não tinha sido a primeiro vez. Um presente dentro de um presente, ainda que não destinadas a mim, as dedicatórias falam de maneira a ressignificar a obra, a ampliar seu sentido, ao menos quando as leio. “Uma duas”, romance de estreia de Eliane Brum, me foi dado por uma amiga com um carinho especial. A poesia da escrita da autora transbordando na dedicatória à moça que, sabe-se lá porque, desfez-se do livro. De São Bento a Juazeiro. “Para Izabel de Oliveira, uma história de nossos oceanos profundos, lá onde vivem os peixes cegos. Eliane Brum”. Foi tão para mim que veio até mim. E a felicidade por isso é indescritível.
Caramba Inês! Que máximo!!
ResponderExcluirAcho muito incríveis essas dedicatórias que chegaram até mim! Obrigada pela visita ao blog! :)
ExcluirIncrível!!
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