Dezenove de março de
2020. Há três dias estou em casa. Não que isso seja um sacrifício
para mim, mas a situação que nos obriga a ficar isolados
socialmente é perturbadora. Não sabemos até quando tudo estará
fora da normalidade.
Estou em casa. Durante
toda a manhã e início da tarde sozinha, em silêncio. E o silêncio
me faz pensar demais, me faz por vezes girar em meu próprio eixo
ainda sem compreender muito bem o que está acontecendo e o que está
por vir. A preocupação e o medo são inevitáveis. Mas penso ainda
na tal normalidade, que também é cruel, que aprisiona, que
restringe e segrega, que muitas vezes nem sentido tem. Que talvez
precisemos do medo para perceber o quanto ainda somos indivíduo,
quando deveríamos ser o todo. O todo é engrenagem, não funciona
com peças soltas.
Eis que um vírus
bate a nossa porta e grita: ei, olha isso, o que o seu vizinho faz
pode te atingir diretamente. Mas sempre não foi assim? Ignoramos o
todo. Pensamos no nosso círculo de afinidades e, se está tudo bem
por aqui, segue a vida, normalmente.
Ligo a TV, programação
normal suspensa, o vírus é o assunto. O moço de paletó diz que
depois do fim da pandemia não haverá mais a ordem que existia
anteriormente. Em outras palavras, a normalidade pode ganhar outro
sentido. E qual o sentido podemos dar? Qual o sentido queremos dar?
Sigo pensando em meu autoconfinamento, quebrado vez ou outra pela
vibração do celular, que me lembra que nem estou tão sozinha
assim, torcendo que consigamos tirar coisas boas do caos, que a
desordem reordene um pouco o mundo.
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