sexta-feira, 20 de março de 2020

Normalidade




Dezenove de março de 2020. Há três dias estou em casa. Não que isso seja um sacrifício para mim, mas a situação que nos obriga a ficar isolados socialmente é perturbadora. Não sabemos até quando tudo estará fora da normalidade.

Estou em casa. Durante toda a manhã e início da tarde sozinha, em silêncio. E o silêncio me faz pensar demais, me faz por vezes girar em meu próprio eixo ainda sem compreender muito bem o que está acontecendo e o que está por vir. A preocupação e o medo são inevitáveis. Mas penso ainda na tal normalidade, que também é cruel, que aprisiona, que restringe e segrega, que muitas vezes nem sentido tem. Que talvez precisemos do medo para perceber o quanto ainda somos indivíduo, quando deveríamos ser o todo. O todo é engrenagem, não funciona com peças soltas.

Eis que um vírus bate a nossa porta e grita: ei, olha isso, o que o seu vizinho faz pode te atingir diretamente. Mas sempre não foi assim? Ignoramos o todo. Pensamos no nosso círculo de afinidades e, se está tudo bem por aqui, segue a vida, normalmente.

Ligo a TV, programação normal suspensa, o vírus é o assunto. O moço de paletó diz que depois do fim da pandemia não haverá mais a ordem que existia anteriormente. Em outras palavras, a normalidade pode ganhar outro sentido. E qual o sentido podemos dar? Qual o sentido queremos dar? Sigo pensando em meu autoconfinamento, quebrado vez ou outra pela vibração do celular, que me lembra que nem estou tão sozinha assim, torcendo que consigamos tirar coisas boas do caos, que a desordem reordene um pouco o mundo.

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