Quem em sua rotina pagaria R$ 7,30 em uma lata de
refrigerante? Ou R$ 12,40 em um pão de hambúrguer (isso mesmo, só o pão,
só um pão)? A Páscoa chamava para a comilança de chocolates, cuja caixa,
que normalmente é vendida a R$ 6, estava sendo oferecida, na promoção, vale
ressaltar, pela bagatela de R$ 21.
Essa é a realidade de quem tem que esperar por voos nos
aeroportos brasileiros. Os preços abusivos são comuns na maioria deles. Sem
opções, o usuário, que já é lesado de tantas outras formas, é obrigado a
escolher entre ficar com fome ou pagar o que lhe é cobrado.
Eu não fiquei com fome.
- Presunto ou pizza? – perguntou a atendente de um café,
visivelmente enfadonha com o ambiente, com o trabalho. Dava para ver que ela
não queria estar ali.
Eu tinha escolhido um folhado, por R$ 8,40, não maior que a
pequena palma de minha mão. Parecia bom pelo vidro que vaporizava no calor-frio
do lugar.
- Presunto ou pizza? – repetiu, mecanicamente ante minha
indecisão ao imenso leque de opções. A atendente queria ir embora. A agonia
dela estava me agoniando.
- Presunto mesmo. Não... pizza.
- É tudo a mesma coisa, mulher. Tudo caro. Eu que não como
um treco caro desse, porque eu sei que não vale. Quando eu como aqui é porque
me dão de graça – A declaração dela me paralisou, mão estendida esperando o
salgado. Ela sorriu de canto de boca como se pensasse “me vinguei por um
segundo”.
Ela sabia que não valia, e eu também. Todos nós sabemos, mas
continuamos perpetuando o sistema, que parece piorar dia após dia. Ela
trabalhando, talvez única fonte de renda, talvez só um complemento ou o
dinheiro para pagar a faculdade. Eu consumindo, sem ver opções, sem reclamar.
Mal peguei o salgado mirrado, mais mirrado do que parecia pelo vidro, e a moça já corria tirando o avental. Eu era sua última cliente. Ela saiu sorrindo, suspirando aliviada. Eu fui ocupar um lugar do café quase lotado, lucrando horrores com as necessidades, às vezes nem tão necessárias, dos que passam por ali.
Mal peguei o salgado mirrado, mais mirrado do que parecia pelo vidro, e a moça já corria tirando o avental. Eu era sua última cliente. Ela saiu sorrindo, suspirando aliviada. Eu fui ocupar um lugar do café quase lotado, lucrando horrores com as necessidades, às vezes nem tão necessárias, dos que passam por ali.
PS.: Eram curiosas as reações das pessoas ao ver o cardápio.
Espanto, indignação e uma longa fila à espera de salgados, pão de queijo e
cafezinhos.
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