quarta-feira, 7 de maio de 2014

O dia em que o silêncio calou


Era maio de 1998. O dia exato eu não me lembro. Cursava a sexta série, hoje sétimo ano do Ensino Fundamental. Parecia ser um dia comum, mais um dia de escola. Eu ainda era a menina que entrava e saía da sala de aula da mesma maneira: sem dizer muitas palavras. Apenas a observar.

Eu, que já não era muito de falar, me dei aos silêncios por não compreender o porquê de tanta coisa. E no alto dos muros que ia construindo sem perceber, os silêncios sempre diziam mais.

Nesse dia, a coordenação da escola me chamou. Não explicitou o motivo, apenas pediu que eu saísse de sala. Sem entender, acompanhei a professora, que depois me diria que a turma ia fazer um trabalho para o dia das mães. Sem querer me expor, me tornaram vitrine. Colocaram em evidência o que tentavam proteger de mim. Para todo mundo. Uma pedagogia que hoje sei que não funciona.

Eu tinha 12 anos. Era a primeira vez que passaria um dia das mães sem a possibilidade de ter a minha mãe ao meu lado. Isso impediria de homenageá-la? Penso que não. Mas naquele instante calaram qualquer vontade de socializar um sentimento que era só meu e ficou sendo por muito tempo.

Engoli o choro, a garganta arranhando. Fiquei lá esquecida entre conversas que não faziam sentido para mim, entre amenidades e sorrisos que nem sequer me atentei a quem eram dirigidos. Tempos depois, sabe-se lá quanto, fui chamada de volta à sala. E ao entrar todo mundo me olhou, olhares que queriam saber sem perguntar, olhares de compaixão. Eu sentei e me fiz invisível. Meu silêncio, pela primeira vez, calava-se por completo. 

4 comentários:

  1. Na sua descrição, nos leva a estar com você nesse momento. Onde o silêncio te dar respostas e que você é merecida ouvi-las. Amor incondicional - "MÃE" - laço que entre filho e mãe nada consegue desatar, nem mesmo quando um já não se faz presente. Que Deus esteja sempre contigo!

    ResponderExcluir
  2. lendo esse texto assim como você não encontro palavras que possam expressar a emoção que invade o coração, só quero dizer que você é uma criatura muito especial,daquelas "criações top de linha", tipo edição especial que Deus já enviou para o mundo,sou feliz por conhece-la,você para mim é sinal de Deus, é Sal e Luz, e certamente orgulho para muitos e para sua mãezinha também no céu junto de Deus.

    ResponderExcluir
  3. Inês, ao ler sua declaração, porque não foi um simples texto, pelo menos não para mim, eu senti e sinto muito bem essa situação que você expressa aqui. Hoje sou eu quem constrói muros de silêncio dentro de mim...justamente por não entender muitas coisa, inclusive, como lidar com a ausência da minha mãe que sempre foi a minha melhor amiga...
    Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Hoje tenho a escrita como uma forma de driblar meus muros e meus constantes silêncios. E esse texto/desabafo é uma forma de homenagear o Dia das Mães, de mostrar que a vida continua, que podemos ser felizes com as ausências, que devemos ser felizes. Jaque, sempre quis falar com você sobre isso, por compartilhar de certa forma com seu sentimento, mas nao consegui. Que bom que gostou do texto!

    ResponderExcluir